Por
puro acaso, hoje revirei algumas gavetas, reli coisas antigas, senti o cheiro
do passado que agora, somente me trás à memória o aroma de um passado antigo. Se
pudesse resumir minha vida nos últimos anos, diria que mantive-me presa no alto
da torre, agora não mais.
Percebo
que não foi preciso que um príncipe viesse-me salvar, pelo contrario, foram vários
príncipes que tentaram salvar-me agarrando as minhas tranças. Levou muito
tempo, o tempo suficiente para perceber que trança nenhuma seria capaz de ser a
chave para a minha liberdade. A verdade é que nunca fui livre, pois sempre me
persegui.
Em
minha cabeça relembro todos os contos infantis, nos quais o príncipe alto,
loiro e corajoso sempre salvava a pobre donzela em perigo. Sim, quantas, muitas
de nós ainda esperam não pelo príncipe, mas pelo fetiche que envolve os contos
de fada? A teoria do“felizes para sempre” que nos cega os olhos.
Sempre
pensei que o amor fosse como nessas historias, pensava que existisse um manual,
um dicionário bíblico, quando na verdade, o amor é o sentimento mais livre que
existe. Não se pega amor com redinhas.
Quando
penso em tudo que vivi, tento recordar quantas maçãs envenenadas comi na
esperança de ser salva, no desejo de ser eternamente feliz. Contudo, foram exatamente os momentos que vivi aos extremos que corajosamente pude ser capaz de cortar as rédeas e me jogar, como quem se joga no escuro sem temer o fundo do poço.
Não
é fácil desgarrar de velhos hábitos, cortar as tranças e pular da torre requer
coragem suficiente para não temer o arriscar. Como dizia Clarice Lispector “o
que quero é bem mais que liberdade”, o que quero é viver, porque viver vai além
dos contos clássicos, pois viver é amar e revirar algumas gavetas, abrir
novos espaços, sempre novos.
(L.K)
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